Aposta em energia sustentável gera economia e rende prêmios

Aproveite antes que acabe! Esse bem que poderia ser o slogan para estimular os que ainda têm dúvida em relação às vantagens de se adotar a sustentabilidade como um ganho consistente para os negócios. Tudo bem que não são todos os casos em que as vantagens são instantâneas, mas no campo da energia e, principalmente, a solar, não há razões para não se buscar essa fonte como opção por energia de baixo impacto ambiental (limpa e renovável), fácil instalação e, quase sempre, apresentando uma importante redução nos custos financeiros. Pois além desses fatores já suficientes para uma decisão de mercado, que tal ainda ser possível obter ganhos em reconhecimento, imagem e até prêmios?

 

Recentemente conheci dois projetos ligados à energia solar que tiveram resultados bastante gratificantes para os empresários que decidiram adota-la.

 

Título de Cidadão

 

Há cerca de 10 anos, o empresário Francisco Edival Gonçalves Freires decidiu abrir o Hotel Tropical para aproveitar a vocação de turismo de negócios em sua cidade, Nova Andradina, no Mato Grosso do Sul (cerca de 300 quilômetros da capital Campo Grande). Logo Edival percebeu que o calor local seria um fator de grande consumo de energia dos seus cerca de 500 hóspedes mensais no uso de ar condicionado em seus 26 quartos, isso sem contar outros consumos cotidianos como os de frigobar, chuveiro elétrico, aparelhos eletrônicos e iluminação.

 

 

Uma conta de energia de quase três mil reais todos os meses foi um fator fundamental para que o empresário pensasse na solução solar para o hotel. O sol que não falta nessa região do Centro-Oeste é um argumento pra lá de inquestionável: “Quando comecei o negócio já tinha pensado nesse caminho, mas era muito caro”, explica Edival. O constante barateamento da energia solar o convenceu da viabilidade do investimento.

 

Um projeto da empresa NeoSolar para a instalação de 97 placas solares acompanhadas de uma convidativa linha de crédito do FCO (Fundo de Financiamento do Centro-Oeste) do Banco do Brasil tornaram realidade a geração de 3.700 kWh consumidos mensalmente pelo hotel. O melhor: não houve necessidade de desembolso de capital, pois com o valor economizado foi possível pagar a prestação. “Tem gente que pensa que é um negócio complicado, mas com uma instalação de boa qualidade, bem feita, os resultados são imediatos”, conclui o proprietário do hotel.

 

Bem, só isso já seria suficiente para a satisfação do empresário, mas graças ao fato de ter sido o primeiro a usar energia solar na hotelaria da cidade, Edival passou a ser referência, inclusive para as escolas e os estudantes da região que de tempos em tempos realizam visitas monitoradas ao hotel. E não foi só isso, o empreendedorismo ainda lhe rendeu uma homenagem na Câmara Municipal de Nova Andradina.

 

Premiação e reconhecimento

 

Outro exemplo interessante é o de Luiz Claudio Dutra, proprietário da Bavep Barretos, concessionária da General Motors há 46 anos na cidade do interior paulista. Diante de uma conta de energia variando entre cinco e sete mil reais mensais e um consumo próximo de 9 mil Kwh, a opção pelo projeto solar não foi difícil. “Fizemos a instalação em setembro de 2017 e nossa conta já caiu para cerca de 200 reais por mês”, conta Luiz.

 

260 placas interligadas garantem o abastecimento da concessionária que comercializa em média 100 veículos novos e 60 usados todos os meses. O financiamento, segundo o empresário, não teve vantagens adicionais por contemplar instalação de energia limpa e renovável. Mesmo assim, será pago em 48 meses ou quatro anos.

 

Para a revendedora de veículos um bom negócio que, além da questão puramente financeira, ainda colheu frutos sendo contemplada com Prêmio Sustentabilidade 2018 concedido pela montadora General Motors pelo projeto Sistema de micro geração distribuída de Energia Fotovoltaica.

 

Que sirvam de exemplo para que novas iniciativas sustentáveis do setor privado sejam capazes de tirar outras empresas da falsa sensação de conforto, pois os custos, entre outros, da energia, água e matérias primas só tendem a crescer. Isso para não falarmos da necessidade urgente de combate às mudanças climáticas e ao aquecimento global. Desenvolvimento sustentável é o único caminho possível para que possamos continuar a habitar este planeta.

 

Por Reinaldo Canto para Revista Carta Capital

Geração distribuída: liberdade e empoderamento à sociedade

Em tempos de democratização do conhecimento, virtualização das informações, inteligência artificial e transformações tecnológicas que empoderam e facilitam a vida do cidadão, a avassaladora maioria dos consumidores brasileiros, por mais antagônico que pareça, não tem liberdade para escolher o fornecedor ou a fonte da energia elétrica que utiliza diariamente.

 

Os consumidores recebem a eletricidade de uma única distribuidora, que detém o monopólio de fornecimento da energia elétrica em regiões pré-determinadas. Não por acaso, estes consumidores foram apelidados no setor elétrico de “consumidores cativos”, ou seja, “prisioneiros” do monopólio de sua região, conforme sugere a etimologia da expressão.

 

A partir de 2012, houve, no entanto, uma histórica mudança deste velho paradigma, traduzida em uma visão inovadora da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Trata-se da a Resolução Normativa 482, que deu origem a uma verdadeira revolução em prol da liberdade, da proatividade e do poder de escolha dos cidadãos.

 

Com esta medida, chegou a tão sonhada alforria aos consumidores cativos, que saíram da posição de meros espectadores para tornarem-se protagonistas no setor elétrico brasileiro, usando telhados e fachadas de edifícios, coberturas de estacionamentos e até pequenas áreas de terreno para gerar energia elétrica por meio do sol, água, biomassa e vento. Isso faz desta resolução uma das mais importantes da história da Agência.

 

No entanto, este empoderamento não ocorre sem resistências. Ao tornar os consumidores produtores de sua própria energia renovável, a geração distribuída ameaça as receitas e lucros de distribuidoras que não se adaptarem à nova realidade da sociedade.

 

Não por acaso, o número de reclamações de consumidores sobre as dificuldades para conectar sistemas de geração distribuída tem crescido exponencialmente. Os problemas relatados vão desde a realização de exigências descabidas em termos de projetos e documentos, até mesmo o descumprimento gritante de prazos para que o sistema do consumidor seja conectado à rede.

 

Neste vai-e-volta de exigências tortuosas, o maior prejudicado é sempre o mesmo: o consumidor. Cabe à sociedade denunciar estes abusos e à Aneel fiscalizar e punir os problemas identificados, evitando barreiras ao progresso, à modernização do setor e às inovações que facilitam e beneficiam os cidadãos.

Como reações ao avanço da geração distribuída, dois movimentos ocorrem no setor: de um lado, grandes grupos econômicos, tradicionais e conservadores, têm mobilizado um pesado lobby na tentativa de alterar esta regulação da Aneel. A intenção é fazer com que os consumidores paguem mais pelas redes de distribuição quando produzirem a sua própria energia elétrica. Do outro lado, empresas mais inovadoras e conscientes da inevitável transformação do setor já começaram a estruturar atividades em geração distribuída, ajustando o seu modelo de negócio à nova realidade do mercado para participar deste segmento.

 

Cabe esclarecer que todo consumidor com geração distribuída paga pelo custo de disponibilidade da rede de distribuição, responsável pelo rateio de custos da infraestrutura das distribuidoras, conforme regulamenta a Aneel. Esse pagamento também é feito no caso de projetos de médio porte conectados em média tensão, via pesados custos de demanda sobre as usinas de geração distribuída. Por vezes, os empreendedores de geração distribuída arcam, inclusive, com uma parte dos custos de reforço da rede, doando posteriormente estes reforços para as distribuidoras.

 

De forma intencional, o discurso do lobby deixa de fora da análise os vastos benefícios econômicos, sociais, ambientais e estratégicos proporcionados pela geração distribuída. Um deles, por exemplo, é o ganho direto para as próprias distribuidoras com a redução de perdas na distribuição de energia elétrica.

 

Desse modo, se o objetivo é que os consumidores paguem mais pelas redes, nada mais justo do que serem também remunerados pelos serviços e benefícios que proporcionam ao País.

 

Cientes da necessidade de buscar equilíbrio entre os agentes do setor elétrico e em benefício da sociedade, as equipes técnicas da Aneel corretamente incorporaram os ganhos da geração distribuída em sua avaliação para aprimorar a regulamentação da modalidade. A Aneel destacou em sua Análise de Impacto Regulatório (AIR) n.º 004/2018 seis importantes benefícios dentre os inúmeros trazidos pela geração distribuída, deixando espaço para a inclusão de outros aspectos imprescindíveis nos cálculos a serem efetuados ao longo dos debates sobre a norma.

 

Na reunião de diretoria da Aneel que deu início à abertura dos trabalhos de 2019, o Diretor-Geral da agência regulatória, André Pepitone, foi preciso e enfático ao esclarecer que a regra vigente para a compensação de energia elétrica não sofrerá alterações retroativas, ou seja, continuará a valer para todos os consumidores que já produzem sua energia elétrica através da geração distribuída. Esta diretriz é um importante sinal de segurança jurídica e regulatória e também de respeito aos consumidores e empreendedores pioneiros deste modelo no Brasil, afastando o risco de judicialização no segmento.

 

Apesar de a geração distribuída estar, finalmente, crescendo no País, o fato é que permanecemos muito atrasados em relação ao mundo. No Brasil a geração distribuída trouxe liberdade a menos de 75 mil consumidores de um universo de mais de 84 milhões de consumidores cativos atendidos pelas distribuidoras. Ou seja, não representa nem uma gota sequer em um oceano de brasileiros cada vez mais pressionados por altas tarifas.

 

Tudo indica, todavia, que o Brasil acaba de entrar em um novo período de prosperidade, com um novo ciclo de crescimento econômico. A segurança energética é ponto crucial para sustentar tal avanço. Neste sentido, a geração distribuída torna-se ainda mais estratégica, pois os investimentos ocorrem de forma descentralizada e espontânea por parte dos próprios consumidores, desafogando a necessidade de vultosos aportes do poder público e acelerando o desenvolvimento econômico, social e ambiental do País.

 

*Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração daAssociação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar)

*Rodrigo Sauaia, CEO da Absolar, mestre em EnergiasRenováveis pela Loughborough University (Reino Unido) e doutor em Engenharia e Tecnologia de Materiais pela PUC-RS, com colaboração internacional na área de energia solar fotovoltaica realizada no Fraunhofer Institut für Solare Energiesysteme (Alemanha)

Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo em 01 de fevereiro de 2019.

Link:https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/geracao-distribuida-liberdade-e-empoderamento-a-sociedade/